Eis o
começo de uma nova situação;
A data: Faz diferença? Não lembro nem
qual foi o meu almoço de hoje, acha mesmo que vou lembrar a data dos
acontecimentos?
Dia desses me emprestaram um livro, e aliás fico me perguntando
por que tudo sempre tem que começar com um livro.
Bom, faz diferença? Ah faz,
porque nesse livro tinha uma pergunta: "o amor acontece ou ele
vira?" Lu, Luiz, Luiz Henrique, como preferia ser chamado, era o nome do personagem
do livro. Nome não, pseudônimo. Como ele era um agiota, precisava de um nome
melhor que o seu próprio. Pseudônimos. Tá ai uma coisa engraçada. O cara pra
quem vou escrever essa 'historinha" também gosta de usar essa coisa babaca
de pseudônimo. Franja. Não, não me perguntem se ele tem merda na cabeça.
Perguntas óbvias deixemos para depois. Quem tem merda na cabeça sou eu mesmo.
Franja. Ganhou esse apelido bacana no colegial.
Ah, os tempos de colegial. São
aqueles tempos que fizeram os seus pais, em um lapso de lucidez momentânea,
sentirem vergonha por terem te colocado no mundo. E acredite, sem exceção de
pais. Franja, vulgo, Daniel. Loiro, sardas, olhos cor de mel, sapato social,
chapéu, suspensório e vendedor de cervejas. Nunca comeu doce de abóbora da
vovó. Mas sua cerveja preferida é sabor abóbora. E sim, existe.
Daniel, que em
alguma brincadeira sem graça do Sr. Destino, decidiu voltar para minha vida.
Justo quando eu não acreditava mais em destino.Cada pessoa tem uma maneira
diferente de descobrir que nutre um sentimento de afeto por outra. Em termos
mais conhecidos (e juvenis) descobrir que gosta. Eu, como sempre, escolho a que me faz parecer uma idiota.
xxxxx
Acendi o cigarro, dei umas duas
tragadas, enquanto minha melhor amiga falava:
" É...é. Esse cara é
estranho"
"Não fala assim"
"Peculiar?" - arriscou, me
olhando com desdém
"Peculiar" - concordei "porra amanda, ele sempre foi o cara mais irritante"
" hm" - assentiu com a
cabeça, enquanto tirava a caixa de cigarros da minha mão.
"E o mais
chato"
"E agora você fica enfiada no serviço dele, todos os dias,
sempre arrumando uma desculpa barata pra passar lá"
"E daí, ele
trabalha aqui do lado..."
"Precisa de dois ônibus pra chegar"
" Mas não leva nem 30 minutos! " - aquiesci, me sentindo intimidada Foi
ai que vi os olhos dela brilhando. Mas aquele brilho que você vê chegando igual
nuvem de chuva, vem bem de longe e quando se dá conta..fodeu.
" Só podemos
recorrer a uma pessoa"
" Não, não, não! Eu jurei que nunca mais faria
isso" - Amanda se limitou a me olhar com desinteresse, com seu ar vil e
superior. Olhou para o telefone. "Não vou fazer isso..tá, uma pergunta não
mata ninguém,né? "
Tocou duas vezes. Três. Na quarta
xinguei minha amiga, mentalmente, de puta.
"Alô?"
" Oi..sou eu.
É, pois é, outra vez"
"Queriiiiiiiiida, tudo booom? A voz dela era
tão irritante que já fez com quem me arrependesse -" é, bom, bom não tá
né, mas tamô ai"
"Quem
é o rapaz desta vez?? Aí não me diga que é aquele zedec, sei lá o que, outra
vez né? "
Estremeci. Vaca maldita, puta analfabeta. Por que tinha que
citar o nome do ex, que nem ex direito era? Será que é pecado xingar uma
cigana? Pode dar azar no amor. Li em algum lugar. Se bem que pior que tá, não
fica. De repente essas frases clichés faziam tanto sentido.
" melch..ah
rosa, não, não, não é ele" - Como assim "quem é o rapaz desta
vez?" como se eu tivesse tantos que fosse difícil lembrar. Se bem
que..melhor deixar pra lá.
"Vamos lá! Relaxa, descruza as pernas, não contrai"
Não, eu não estava ligando para uma parteira. Mas sim, pra única mulher do mundo
que sabia de todos os meus romances mal resolvidos. Minha taróloga.
("você devia escrever com a mesma delicadeza que me conta as coisas" Ai eu aceitei a proposta.)