segunda-feira, 25 de agosto de 2014









Tudo que eu quero te falar


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é um vazio meu

Michelle, ma belle



Michelle, lembra quando fiz um poema onde toda frase começava com Gabriel?
Era um pouco irritante, não era? Mas você disse que ficou até bonito.

 Michelle, é tanta coisa que me acontece..
Tanta coisa que me escorre dos dedos.

Eu choro. As lágrimas aparecem e é engraçado como vão embora, como num ralo aberto elas desaparecem, fogem de mim.
Hoje escrevo por não ter seguido seus conselhos. Ou por os ter seguido tão bem que só me resta confusão nesse coração que vai batendo bem, obrigada.
Escrevo porque partiram meu coração. Igual em filme de comédia romântica, só que a parte da comédia ainda tá faltando.
Escrevo porque deixei a cidade acabar comigo. "Não deixa São Paulo te engolir" você vivia falando e eu ria, colocava mais cerveja no seu copo e fazia um brinde.
E a danada me engoliu de jeito. Me pegou por trás mesmo, igual o tempo comeu aquela moça no poema que eu costumava recitar enquanto tomávamos café.

Quem tem olhos pra ver o tempo?
Soprando sulcos na pele?

Eu escrevo e lembro das noites em que andávamos pela avenida larga dessa cidade grande. Cidade tão pequena pro nosso peito vasto.
Entre prédios e saídas de incêndio, íamos de bar em bar, você com teu silêncio de mil textos e eu com minhas rimas baratas de amores que inventava. Falávamos dos amigos que já não víamos, das histórias que não tínhamos.
Entre risos gastos você gritava o garçom: "Ô moço, dois dedos mais no copo, por favor"
E sentadas na calçada, o céu cinza nos acolhia. Você conversava com alguém enquanto eu fazia outra poesia. Pegava um verso meu e encaixava no teu, acendia outro cigarro e sorria.
Mais uma cachaça na mesa do bar e então você me tirava do sério.
Jogava bolsa, carteira, sapato, olhava pra mesa do lado e pedia mais um trago.
Nós gostávamos dos dias de sol e nos deleitávamos com a madrugada. Você fazia graça com a natureza, chegava da noitada e meditava.
Eu só me arrastava pra te acompanhar. Teu passo era sem pressa. E o meu apressado que só. Então você me pedia pra ter calma que o mundo é um só.
Dizia que tudo bem e cambaleando rua abaixo, me entregava a chave na mão, gritava boa noite pro taxista e caia no portão.
Deitava e falava, abria as cortinas, fumava. Era Henrique, Paulo, Daniel...me contava de todos os caras que não souberam te amar. 
Falava das aulas que ainda tínhamos que revisar, das equações que não sabíamos fazer e que sexo com tpm era bom (é não é que é?)

Dorme, pequena, dorme
que as luzes da nossa decoração de natal
continuam a brilhar.

De manhã preparava o café com teus olhos de ressaca, pegava o cigarro e colocava as flores no vaso.
"Quem gosta dá flor" 
Ah, que saudade do teu abraço, do teu riso desenfreado
teu olhar desconfiado de criança
que tudo quer saber.

Ah, que saudade das nossas conversas
e do nosso sonho de encenar,
Das taças de vinho espalhadas pela casa,
dos livros que nunca lemos e
dos romances que nunca escrevemos.

Eu fico por aqui, sofrendo de amor, ou como nosso amigo André dizia, vivendo de amor. Porque quem ama vive. Vou leve, contando os passos pra te encontrar. Vou serena, fazendo versos pra te encantar.

Que Minas é longe pra diacho, mas ah...que saudade do teu abraço.



E um beijo no grande rei Arthur,
Com todo meu amor.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

TEM COISA QUE SÓ SAI DA GENTE POR ESCRITO



Então ali estava eu. Parada atrás da faixa amarela do metrô, vendo minha imagem refletida nas portas de  segurança. Enquanto Cássia Eller cantava sobre malandragem na minha playlist, misturado ao barulho ambiente de conversas e passos apressados, abre e fecha de portas sincronizadas.
O que via no reflexo não era nada além do que já estava acostumada. Eu mesma.
Porém um detalhe me prendia a atenção. A camiseta que usava não era minha.
Em um ato de pressa havia pego a primeira camiseta solta no guarda-roupas. E não só a camiseta não era minha. O quarto, a cama e a casa também não eram.
Minha mesmo era só a pressa. E uma pontada de amor que crescia enquanto escutava uma respiração tranquila vinda do outro lado do quarto.
Meu mesmo, era o só o amor.
E agora estava ali parada, com aquela camiseta. Se me perguntassem de quem era, eu ensaiaria uma risada e não saberia responder.
"É do meu namorado."
Então essa palavra dançaria na minha boca, meio incerta, fazendo graça.
 Que coisa.
Encarei outra vez meu reflexo e como em um daqueles filmes onde você vê toda a sua vida passando na frente dos seus olhos, vi todos os meus versos desfilando ali.
Vi minhas poesias de tantos amores não vingados. Vi as páginas do meu livro sendo apagadas, uma a uma, ficando todas vazias. Por fim, vi todas as minhas expectativas se cruzando, dando as mãos e acenando.Tchau.
Das lembranças, mandei-as embora.
Das certezas, me desfaço de todas.
Das expectativas, fico com as que me enganaram.
Como nos meus sonhos ripongos, onde minha ideia de relacionamento seria um maluco de estrada que me pegaria pelas mãos e me levaria para conhecer as Cordilheiras. E seria parecido com o John Lennon.
Relacionamentos? Não sabia nem soletrar.
Dos monogâmicos achava uma chatice. Uma mentira construída nas bases morais da sociedade.
Essa coisa toda de um cuidar do outro, datas comemorativas, ciumes, finais de semana juntos, ligações, fotos bonitas, almoço na casa dos pais. Abominava todas.
Entendia mesmo era de drama. Dos romances que não davam certo, e que no fim, davam belos textos regados em boêmia.
Do amor, só achava bonito o que era livre para ir, e quem sabe, por simples insistência do destino voltar, ou não.
Achava bonito porque é mais fácil rimar amor com dor.
Engraçado que, agora, difícil mesmo é  reparar no teu sorriso e fingir que ele não fica mais afável junto com o meu.
Difícil é não achar graça na sua cara de sono, no seu quarto bagunçado e nos adesivos de adolescente colados no seu guarda-roupas.
Difícil mesmo, é negar que a tua melodia combina tanto com a minha.

E então ali estava eu. Confrontando meu reflexo em uma estação de metrô. As portas se abrem e o reflexo vai embora. Arrisco dizer, que junto com ele, minha insegurança e medo de sentir também.
Relacionamento, namoro, paixão, companheirismo. Não me importa o nome.
Porque se é mesmo esse tal de amor, que continue sendo leve, igual tuas mãos me despertando com o sol do meio dia.
E que seja tudo, menos poesia, porque como Cazuza já dizia, o amor na prática é sempre ao contrário.