quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

DO DIA QUE O CAVALHEIRO SAMBOU



[[[ Rua estreita - Casa 05 Fundos ]]]

Adentrei a casa com olhos curiosos. Casa simples, pequena. Imãs desenhados na geladeira, uma coleção de xícaras coloridas, garrafas vazias em uma caixa no canto da cozinha.

Ouço o arranjo da música abraçando o quarto.
Meus olhos acompanham cada movimento do Cavalheiro. O desprender dos cachos do seu cabelo, suas costas nuas dançando sem preocupação, suas mãos balançando no ar, a boca desafiadora aberta em um sorriso com os dentes à mostra.
Seus movimentos ágeis são calculados, animalescos, livres. Os cabelos soltos emoldurando o rosto fino e incógnito
Percebi que não sentia necessidade de saber sobre o passado do Cavalheiro.
Quem era ou de onde veio, com quem cresceu e viveu, quais eram seus valores, seu signo, no que acreditava e buscava, o porquê da pequena cicatriz em seu ombro.
Nada disso tinha relevância.
Seu passado e futuro se fundiam num poço sem mistérios para mim.
Só o que eu via era o Cavalheiro à minha frente, de costas esguias e pele bronzeada, andando nu pela casa ao som de Caetano.
Seu quadril reagia ao som assim como minhas mãos reagiam ao seu toque felino.Como um leopardo negro ele avança sobre meu corpo, presa fácil que sou. A explosão de um gozo contido, rápido, libertador. Seu toque ricocheteava como o vento da janela aberta de um carro em movimento.
Seu olhar brilhava com qualquer coisa de ceticismo místico.Um semblante da insanidade ao avesso de Dalí com um toque da loucura amarela de Van Gogh.
Um animal selvagem que não podia ser domesticado.Com sua lucidez disfarçada, ele girava o tronco em seu próprio eixo.
As mãos acariciando o ar. Os olhos fechados. Cachos negros soltos. Um leopardo, um camaleão, um escorpião. Um Eros perdido na Terra.

Caetano cantava e o Cavalheiro sambava até seu corpo e o mundo ficar odara.


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